Uma avaliação global da formação

A formação realizada definiu como principal finalidade a descoberta e reflexão acerca das potencialidades que as novas ferramentas disponibilizadas através da Internet – as designadas ferramentas da web 2.0 – possuem para o campo educativo, mais particularmente para o campo do ensino superior, uma vez que é deste nível de ensino que provêm os formandos e formadores.

No que respeita a metodologia utilizada, o trabalho de formação, assentou largamente na indução da exploração autónoma das possíveis ferramentas a mobilizar enquanto estratégias de ensino/aprendizagem, sem que a vertente técnica intrínseca a cada uma das ferramentas identificadas como pertinentes tenha sido explorada, antes deixando a cargo dos formandos a identificação de fontes que tal permitissem e que a partilha de saberes a desenvolver entre formandos, através da plataforma moodle e dos seus recursos e actividades, pudesse resultar numa aprendizagem colectiva que permitisse suplantar essas eventuais dificuldades na utilização prática dos recursos identificados.

Na minha opinião, esta estratégia, como qualquer outra, tem potencialmente vantagens e desvantagens. Desde logo, são potencialmente vantagens quer a gestão autónoma do tempo no âmbito da formação, quer a definição de percursos individualizados de exploração da informação marcados pelo interesse no aprofundamento do conhecimento e do funcionamento de determinadas ferramentas em detrimento de outras, sem que todos sejam obrigados a seguir um mesmo percurso de aprendizagem quer, ainda, a criação de um ambiente de aprendizagem marcado pela partilha e aprendizagem mútua através dos recursos previstos pelos formadores (chat, blogue...).

No entanto, em parte também devido a condicionantes pessoais, acredito que estas potencialidades não se concretizaram. Em boa verdade, os espaços de partilha acabaram por ser genericamente informativos e muito pouco de discussão e de troca de argumentos e de experiências (veja-se o número de comentários às entradas do blogue ou mesmo o número absoluto de participações no blogue e a troca de experiências também só seria formativa se a distância de competências e conhecimentos acerca do objecto de formação entre os vários envolvidos fosse transponível) e a gestão autónoma do tempo só é susceptível de ter bons resultados se organizada em função de coordenadas de exploração da infinidade de conhecimentos disponíveis, caso contrário, tudo se resume a uma espécie de tarefa sísifica, verdadeiramente impossível e para a qual nenhum tempo é suficiente. E o mesmo se pode dizer acerca dos percursos individualizados de formação já que para estes se necessita de pontos de referência (neste caso pelo menos o conhecimento dos nossos “desconhecimentos” acerca do assunto central da formação que contém em si um saber sobre o que desejamos saber), nem sempre fáceis de definir quando nos colocam “no meio do caminho” e não somos capazes de ter noção nem do que não sabemos, quanto mais do que queremos saber...

Assim, ainda que recolher informação sobre as ferramentas e sobre os recursos que nos ajudam a lidar com elas seja um aspecto importante, uma formação contínua de docentes do ensino superior tem necessariamente que transcender a mera lógica informativa a que, com mais ou menos dificuldade qualquer um terá oportunidade de aceder sem a necessidade de se inscrever numa formação deste tipo. Tenho a convicção de que é substancialmente distinto providenciar informação de promover formação. Pelo meio há-de haver a chamada transposição didáctica – isto é a transformação da informação em conhecimento apropriável organizado segundo uma forma pedagógica adequada – que, sinceramente, não creio ter sido uma preocupação evidente na estruturação desta formação. É que perante uma biblioteca infinita, ou quase, como a que constitui hoje o manancial de informação sobre a web 2.0, é muito fácil cair na desorientação ou na aleatoriedade face ao que encontramos nessa imensa “prateleira” que é a Internet. Mesmo se, em abstracto, apreciei o conjunto de sugestões de leitura e de consulta que pude recolher por indicação dos colegas formandos.

Por fim, partiu-se do pressuposto do pré-conhecimento ou da intuitividade da utilização técnica das ferramentas apresentadas o que para não iniciados – como é o meu caso – funciona claramente como um handicap, muitas vezes inultrapassável. De facto, não compreendo como é que se pode aquilatar da pertinência, potencialidades e limites das ferramentas da web 2.0 se não se conhecer minimamente o seu funcionamento. Parece-me então que seria preferível que a esta acção de formação antecedesse uma outra mais centrada nos aspectos funcionais das ferramentas, para que a exploração das suas potencialidades pudesse agora ter sido mais efectiva e proveitosa.

Em suma, em termos de apreciação global, ainda assim teria preferido menos informação e mais formação. Ficará para a próxima, com certeza.